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Outubro Rosa: Entrevista com Irene de Souza

  • Você já tinha essa rotina de fazer o autoexame ou foi uma campanha que te despertou?

Desde 2012 eu já fazia acompanhamento por prevenção né? Ia na ginecologista, nunca tinha feito mamografia até então, foi quando a gente fez o plano e ela pediu checkup; e nesse checkup eu descobri um ‘nodulozinho’ na minha mama direita.

Até então, eu fiz tudo, mamografia, ultrassom; e até então deu que era benigno.

  • E aí, após se tocar e perceber o nódulo, como você procedeu depois?

O meu cisto era muito pequeno, por isso que eu falo que a melhor prevenção é a da gente né, você se conhecer, se tocar. Quando em abril de 2018, eu tinha feito minha mamografia, meu checkup, tudo tranquilo. Fiz pulsão em janeiro de 2018, o médico falou “não, tá tudo tranquilo”. Quando eu menstruava, minhas mamas doíam muito, mas em julho foi embora o período menstrual e meio seio direito continuou doendo.

Eu até comentei com a minha vizinha, que tá fazendo tratamento de câncer; porque até então a gente tem esse mito né, de que câncer de mama não dói, tem gente que não sente nada, sente só um ‘nódulozinho’, o meu não.

Eu fiz uma viagem para o Mato Grosso, aí eu me toquei e vi que estava grande, tinha alguma coisa assim dura já, e minha mama começou a se transformar. E o bico do meu peito, eu vi que estava um pouquinho diferente do esquerdo, aí eu vim embora do Mato Grosso e quando cheguei aqui, já liguei para o meu médico, a menina [assistente] falou “não, você tem retorno só em outubro”, aí eu falei “não, mas minha mama está diferente, eu tenho que falar com o Doutor”, aí ela disse: “sendo assim, você vem na quinta a tarde”.

Quando eu fui e ele examinou, ele disse “está muito diferente o bico da sua mama”, de agosto de 2018 até novembro, eu fiquei fazendo exames, e descobriram que eu estava com câncer.

  • Ao saber o diagnóstico, como é que foi o primeiro impacto?

Desde aquele mês de agosto, lá atrás, algo me dizia que era coisa séria né. Talvez a minha fé me ajudou muito, talvez não, eu tenho certeza. Eu estava um pouco preparada para aquilo.

Eu fazia meus exames, indo com meu esposo, mas eu nunca fiquei assim, esmorecida. Quando chegou o diagnóstico, eu lembro que eu estava com meu esposo e minha irmã; aí minha irmã começou a chorar e o Dr Élcio me falou “Dasirene, deu positivo, é câncer, está no início e tem 99% de chance. Vai depender da sua fé, da sua luta, e de confiar em nós”.

Naquele primeiro impacto, que você recebe a notícia que tem câncer, tem duas opções né: morrer ou viver. Quando ele [médico] falou, eu pensei comigo “eu tenho duas possibilidades, a morte ou a vida”, e eu optei por viver, não chorei, ficar alegre, não fiquei, mas tinha que ter força.

  • E, como começou o tratamento? Como foi?

Aí é um mundo desconhecido. Cada uma tem um tratamento né, é câncer de mama, mas nós temos históricos diferentes. Eu comecei pela quimioterapia, como ele estava muito grande – o tumor, eles [médicos] quiseram dar uma diminuída nele. Eu fiz minha primeira quimioterapia no dia 13 de dezembro de 2018.

Até então, para mim, era um mundo desconhecido, eu não tinha noção do que era uma quimioterapia, não tinha noção. Então quando eu fui, eu fiz minha oração e entreguei nas mãos de Deus, naquele momento. Não é um tratamento fácil, é uma luta, nos primeiros dias eu ficava de cama, eu ficava ali 10 dias à base de água, não conseguia  comer nada, e aquela pressão das pessoas “ah, você tem que comer, você tem que ser forte”, mas só de você estar com um câncer e lutando, você já é forte né.

 Você passava muito mal com a quimio? Se sentia exausta? Coo era o seu físico?

Eu nunca senti náusea. As sessões eram a cada 21 dias, a questão é que eu não comia, aí eu perdi assim 2 kg, nesses 10 primeiros dias, que eu ficava mal; aí nos outros dias eu ganhava o peso de novo.

Mas até então eu ficava tranquila, na minha, não colocava a culpa em ninguém, não ficava chorando, ficava na minha ali quietinha.

Aí eu fiz seis sessões de quimioterapia, comecei em dezembro, terminei em 6 de abril de 2018. Quando foi dia 27 de maio, eu fiz a mastectomia da mama direita né, a retirada da mama toda e o esvaziamento axilar. Depois, em gosto eu comecei a fazer 30 sessões de radioterapia. Então eu fiz quimio, cirurgia e radio.

  • Após acabar as sessões, como você se sentiu? Você se sentiu liberta? Ou você ainda achava que tinha o câncer, e como foi esse processo de cura?

Quando eu terminei minhas sessões de anticorpos, fizeram meus exames e estava tudo ok, o médico falou “você está curada”, mas é um ‘curada’ entre aspas, que a gente nunca deve só confiar e pronto. Você tem que ter um comprometimento com a sua vida, terminou aquele ciclo de medicamentos né, mas o acompanhamento é para o resto da vida.

Eu me sinto curada sabe, mas tudo que eu sinto de diferente, eu ligo para o médico e falo. Sempre busco prevenir né, a gente tem que continuar com essa prevenção mais ainda.

  • E como foi se ver mulher sem uma parte sua? Foi um problema para você? (Caso tenha feito a mastectomia)

OBS: ELA AFIRMA TER SENTIDO UM IMPACTO MAIOR COM A PERDA DO CABELO

Quando a Doutora Yasmin me explicou “Dasirente, seu cabelo vai cair”, e o Doutor Élcio disse “Dasirene, nós vamos tirar a mama”, eu comecei a me preparar. Nesse período das quimios, eu já fui me preparando para a retirada da mama.

Até então, quando o cabelo começou a cair, eu cortei ele em quatro partes, para não ter aquele choque de raspar de vez. O cabelo, para gente que é mulher, tem um impacto né, tem toda uma preparação. Era final de ano, eu ia no salão cortar meu cabelo, e via as mulheres arrumando o cabelo porque era Natal, Réveillon, porque tinha que participar das festas, e eu pensando assim né “algumas cuidando e eu acabando com o meu”, mas nunca deixei isso me abater.

Eu falava “Senhor, eu quero a sua misericórdia, eu quero a minha cura; eu quero ser a Irene que eu era antes. Eu não estou aqui apegada em cabelo”.

Quando eu raspei minha cabeça, no início de janeiro, eu fiquei uns 15 dias, 20 dias sem me tocar ali. Eu não me olhava no espelho, e eu pedindo força sempre a Deus. O cabelo foi um impacto maior do que a mama para mim.

  • E qual seria, hoje, a sua grande lição e mensagem que você gostaria de passar, com tudo que você viveu?

 A lição que eu tirei disso tudo é que você deve se conhecer. As mulheres tem que se tocar, tem muitas mulheres que não tem o hábito de conhecer o próprio corpo. Acho que a partir do momento em que você conhece seu corpo. As vezes você faz uma prevenção, uma mamografia e está tudo ok, mas daqui a um, dois meses, surge uma coisinha, e se você não se conhece, você acha que é normal. E o que eu deixo para as mulheres é: se cuidar, se amar.