Você já tinha essa rotina de fazer o autoexame ou foi uma campanha que te despertou?
R: Eu tinha essa rotina porque minha irmã teve câncer de mama. Em 2001 ela teve câncer de mama agressivo, mas ela está bem, graças a Deus. Mas aí, a partir disso, eu tive essa curiosidade de estar me tocando, eu sempre me tocava, no banho, na hora de dormir; eu sempre estava ali ‘procurando’ né.
E aí, após se tocar e perceber o nódulo, como você procedeu depois?
R: Em 2010 eu achei um nódulo e fiz todo o procedimento, fiz a biopsia e deu benigno. Fui à ginecologista né, eu morava em Divinópolis na época, e fui em uma ginecologista em Paraíso e aí ela me passou para o Dr. Nilo, aqui em Palmas, que é o mastologista.
A partir daí eu fiquei só com ele, só de pegar, no toque mesmo, ele já sentiu que era algo mais perigoso, aí ele aprofundou o tratamento, falou que era maligno.
Ao saber o diagnóstico, como é que foi o primeiro impacto?
R: Naquela hora ali foi uma coisa estranha, porque eu não tive uma reação, eu fiquei assim ‘extasiada’; nem chorei, nem fiquei triste, eu desci, entrei no carro, aí falei para o meu marido “É maligno.”, e a gente fica sem cair a fixa daquilo né, porque você não imagina que isso vai acontecer com você, nunca. Você nunca imagina que isso pode acontecer com você.
E, como começou o tratamento? Como foi?
R: É como eu falo para todo mundo, é coisa de Deus mesmo – eu sou evangélica né, aí eu passei essa história para o meu pastor na Igreja, e não é balela, foi um tratamento mais tranquilo, eu não me apavorei, eu não acreditei em nenhum minuto que eu ia morrer.
Eu fiz todo o tratamento na oncologia do HGP, foi um tratamento bem feito, fui super bem-cuidada, bem aparada. Esse mastologista, Dr. Nilo, é uma pessoa maravilhosa, ele te deixa totalmente calma, sossegada. E eu não tive nenhum medo, em nenhum instante que eu ia tomar essas quimios. Eu chegava lá e costumava falar assim para as meninas: “eu estou vindo tomar gotinhas do sangue de Deus”, então assim, eu nunca tive um minuto sequer de medo em falar “Ai, eu vou morrer”, eu tinha certeza da minha cura.
Você passava muito mal com a quimio? Se sentia exausta? Coo era o seu físico?
R: Sim. Durante as quimioterapias vermelhas, que são as mais temidas, eu senti pouca coisa, a única coisa que aconteceu foi a queda do cabelo na segunda quimio, ele caiu todo, todo! Eu passei a mão, ele veio todo na minha mão e eu já mandei raspar logo.
Aí as outras quimios, que são as brancas, são as que trazem mais dores do corpo, fadiga, cansaço; você vai ali no mercado e quando volta parece que andou quilômetros né, dores na perna, as vezes o humor oscila muito, então a sua família tem que ter muita paciência, o marido, filho, porque não é fácil. Eu tive muito apoio do meu marido, ele foi muito guerreiro comigo.
Após acabar as sessões, como você se sentiu? Você se sentiu liberta? Ou você ainda achava que tinha o câncer, e como foi esse processo de cura?
R: Assim, você fica dois anos indo ali, naquele local, e você acaba se acostumando, você forma uma família ali dentro na oncologia- tanto que a gente tem um grupo de 120 mulheres né, que a gente é muito apegada, é uma ajudando a outra, então eu fiz uma família ali dentro, com as meninas, os médicos, as enfermeiras.
Então quando a Dra. Yasmin chegou para mim e falou “Olha, você terminou hoje e você está curada”, aquilo ali foi uma mistura de emoção tipo: não vou vir mais aqui, então eu chorei muito, porque eu falei “eu não vou vim mais aqui, eu não vou ver vocês, aí eu chorei, foi um negócio louco, parece que eu não queria sair dali. Mas ao mesmo tempo eu estava tão feliz porque eu me sentia curada; e eu me sinto curada!
E como foi se ver mulher sem uma parte sua? Foi um problema para você? (Caso tenha feito a mastectomia)
R: Durante o tratamento, o Dr. Nilo viu que não tinha a necessidade de tirar a mama toda, cada caso é um caso né. No meu não foi necessário tirar a mama toda, fiz o esvaziamento da axila né e o quadrante, tirando todas as áreas ao redor [do tumor], mas não deixa de deixar sua mama ‘deformada’ né, tem uma estéticazinha que sai do padrão, mas eu nunca tive problema com isso.
Mas eu não tive problema, eu igual eu te falei, meu esposo é uma pessoa muito brincalhona, o que me ajudou muito nesse tratamento foi o alto astral dele. Por mais que ele pudesse estar triste, ele não mostrava. Ele é uma pessoa muito alegre e brincava com a minha careca. Eu saía na rua de lenço, mas em casa eu ficava sem para respirar um pouco. Pelo apoio que eu tive dele, não foi um grande problema.
E qual seria, hoje, a sua grande lição e mensagem que você gostaria de passar, com tudo que você viveu?
R: Então, depois disso que eu terminei tudo, eu falei para mim mesma que eu não ia mais sair desse caminho de estar ajudando as pessoas. Porque eu vi muita coisa ali dentro daquela oncologia, eu perdi cinco pessoas que faziam tratamento comigo e não conseguiram vencer, sabe, e eram muito próximas. Então eu falei para mim “Eu vou estar com essas pessoas até o fim”, tem mulheres que recebem o diagnóstico e não conseguem suportar a notícia.
Então o que eu aprendi foi que não adianta ficar chorando, você tem que entregar nas mãos de Deus e aceitar, porque se você não aceitar, você não consegue fazer o tratamento. O que mata você é a tristeza e a depressão, se você se jogar numa cama e falar “vou morrer”, você morre. Eu saía, ia para rua, todo mundo me olhava.